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Miguel Patrício -

TORCER PARA NÃO GANHAR

Dia desses a mega-sena acumulou o prêmio a ser distribuído entre os ganhadores. Não me lembro o valor, mas era um absurdo de dinheiro; uma vida inteira seria insuficiente para alguém gastar. É claro que, como a maioria das pessoas, eu também pensei em concorrer. As apostas fechavam no sábado; eu tinha muito tempo...

Quinta-feira fui ao supermercado após o serviço. Sexta fiz hora extra e, quando saí, havia passado da hora. O sábado surgiu, ainda fui lavar o carro na parte da manhã e, enfim, me dirigi à lotérica. Havia deixado para última hora, mas dava tempo, só não esperava encontrar uma multidão se acotovelando na porta do estabelecimento. Não precisa dizer que lá dentro nem dava para andar, não é? Era inútil ficar esperando, então peguei uma senha e voltei para casa. Bastava calcular uma porção de minutos, uma hora talvez, e voltar para lá. Aí tive um problema...

No momento exato do retorno, minha sogra ligou pedindo para levá-la ao cabeleireiro. Aí, vocês sabem, sogra é sogra e lá fui eu, para o outro lado da cidade, acompanhar a velha. Deixei o “encosto” lá e corri de volta, mas já era tarde; minha vez havia passado e a lotérica havia distribuído as últimas senhas. Pronto! Fiquei sem jogar, e a partir daí eu perdi minha paz. Preocupei-me verdadeiramente, como nunca aconteceu na vida. O problema é que realizo, há muito tempo, a mesma jogada, ou seja, eu já tinha os números definidos para registrar. E agora? Pensei. Sei que é muito difícil acertar, mas e se eu fosse o escolhido logo agora, com aquele monte de dinheiro?

Passei, então, a torcer para não ganhar, e descobri que é muito mais difícil que torcer normalmente, pensando acertar as seis dezenas. Eu não me esquecia do caso, da minha sequência de números não registrados. Voltei para buscar a sogra e nem ouvi direito a história que ela me contou no caminho. Os minutos passavam lentamente, foi um verdadeiro sufoco aguardar o momento do sorteio. Deixei outros afazeres para depois e fiquei ligado no rádio, na TV e na internet para saber a notícia o mais rápido possível. Não conversava mais com ninguém e percebi que suava frio quando estava chegando a hora, o instante fatídico de saber o resultado. Eu tinha que errar aqueles números, era só o que pensava! Acho que não suportaria, se fosse o ganhador. Até que saiu a sequência premiada, e felizmente eu perdi. Nem cheguei perto de acertar uma só dezena. Foi o momento mais feliz da minha vida, uma verdadeira alegria saber que não ganhei.

Se eu acertasse, inevitavelmente a culpa ficaria na sogra, mas o caso me mostrou a não deixar tudo para a última hora. E principalmente aprendi o quanto é difícil torcer para não ganhar. Foi mesmo um alívio! Que sorte eu tive!

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