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Miguel Patrício -

O SILÊNCIO

A música é linda! Deveria ser a primeira da lista em nossa seleção. Num instante de rara inspiração, surgiu nas mentes de Nini Rosso e Guglielmo Brezza, compositores italianos. Com o nome original de Il Silenzio, toca fundo a alma até daqueles mais insensíveis. Desde 1965, quando surgiu, encanta a todos e, posso afirmar, é uma canção inesquecível que transcende o tempo e, assim, não morrerá jamais.

Veja como paradoxal é a vida: alguém, um dia, resolveu colocá-la “de fundo” para anunciar a morte de outrem em uma rádio qualquer ou no som de uma propaganda volante. Outro locutor ouviu e gostou, já que a música transmite uma enorme carga de sentimento. E então se criou o costume, a tradição, até mesmo a obrigação de associar a sua beleza à triste hora do passamento de alguém. Uma maldade o que fizeram!

Assim é em nossa região. A música funde-se de tal maneira com a lembrança da morte que ninguém mais a ouve em casa, numa festa, ninguém toca em rádio, ninguém compra o “compact disc” para oferecer à pessoa amada, ninguém envia um vídeo daquele músico empunhando o trompete com os olhos perdidos no infinito. Quando é executada e o vento traz os primeiros acordes, todos ficam de “orelha em pé” para saber quem morreu. E logo se espalha pela cidade o trágico acontecimento. Não há mais como mudar; a imortal melodia recebeu com o tempo uma letra popular que canta a morte.

Infelizmente essas tristes notas musicais já anunciaram por aí a viagem sem volta de vários amigos e parentes meus. Já chorei ouvindo sua cadência, sem entender de verdade por que a morte veio junto quando nos foi concedida a vida. Mas é assim e pronto! E, qualquer dia desses, vocês ouvirão a música e a voz impostada de um locutor anunciando a minha partida também. E como a gente não sabe o dia nem a hora, eu já aproveito para me despedir. Foi bom conhecer todos vocês!

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