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Miguel Patrício -

ESTÁTUA

Recordar é viver! Essa frase é conhecida e repetida por quase todas as pessoas. Lembrar, principalmente os bons acontecimentos, faz muito bem. A saudade, quando domesticada, traz sorrisos, não traz tristezas. E nessas linhas vou lembrando alguns momentos de minha vida, em especial a mocidade.

Havia muitas brincadeiras quando os colegas se reuniam. Tudo era motivo de riso, de felicidade. Uma delas me chamava a atenção. Era conhecida como “Estátua” e consistia em paralisar o amigo simplesmente com a pronúncia do nome do brinquedo. Isso sempre acontecia quando alguém chegava de repente e pegava a pessoa distraída. Estátua! Logo se ouvia, e a vítima ficava alguns minutos exatamente na posição que estava naquele instante, esperando a ordem de soltura que só poderia ser concedida pelo amigo carcereiro. Os outros andavam ao seu redor, mexiam em seu cabelo, seu nariz, suas orelhas. E ninguém se importava, se chateava com a diversão dos companheiros. Ficava ali, imóvel, esperando sua vez que, fatalmente, chegaria.

Quase sempre se via um prisioneiro por aí, com os olhos parados no tempo tentando não piscar, com os braços estendidos no ar e a boca aberta resultante daquele fatídico momento em que fora colocado de castigo. No entanto, nem todos brincavam de “Estátua”. Era tudo combinado com antecedência. O interessado teria que perguntar se a pessoa escolhida aceitava, mais ou menos como acontece hoje nas redes sociais; é preciso o aval para acompanhar alguém, para fazer parte de seu grupo de amigos. E a cerimônia de contrato era simples: as duas partes estendiam e tocavam levemente os dedos mindinhos. A partir desse momento, era necessário andar com dois dedos de uma das mãos sempre cruzados para que não fosse colocado fixo, estático, durante certo tempo. Era incômodo, mas todos se precaviam no encontro com os amigos.

Eu poderia enumerar aqui inúmeras outras brincadeiras desse tempo, mas me contento com esse pedaço de saudade reservado a mim neste momento. Da velha-guarda, muitos se lembram da brincadeira de “Estátua”. Infelizmente essa e todas as outras vão ficando no tempo, sumindo com a sucessão de gerações e as novas formas de entretenimento. É uma pena!

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