Há certas tarefas na vida difíceis de realizar. Vira e mexe, nos deparamos com uma delas, e o dia, antes leve e agradável, passa a ser desprovido de prazer, um dia que desejamos que passe depressa. Hoje eu me deparei com uma dessas tarefas: tive que deletar, em meu telefone, o contato de um amigo que havia falecido. Não é fácil. Parece ser, mas não é. E o meu dia se pintou de um cinza escuro, escuro e triste.
Quando selecionei o número desse meu amigo, senti sua perda de uma forma mais real que no dia de seu sepultamento. Parece que, naquela hora, junto às pessoas no cortejo, a gente se sente meio anestesiado, assim levado e consolado pelos parentes, pelos presentes, mas agora aqui sozinho, tendo que deletar o número do seu telefone, é complicado. A gente entende que a pessoa se foi de verdade, que a morte, impiedosa, a levou para sempre. Não há nada mais cruel saber que não vou mais ligar para ele e, do outro lado, surgir aquela voz sempre alegre, de bem com a vida, contente com a minha ligação. É, não vou mais ligar.
E assim foi. Meu dedo indicador se debruçou cambaleante sobre o número, como se negasse a executar a ação que o cérebro ordenava. Lembrei de vários bons momentos que passamos juntos, nossas brincadeiras, nossas risadas. Bateu forte em meu peito o arrependimento de não ter aproveitado mais de sua presença, fazer coisas simples como ir à sua casa, assistir a um filme juntos ou simplesmente conversar, falar da vida, sorrir. Bateu forte em meu peito o arrependimento de não ter simplesmente ligado mais, mesmo que fosse apenas para ouvir sua voz e saber que estava tudo bem. E meu dedo se abaixou, deletando para sempre o contato, o seu contato com este mundo tão efêmero, tão confuso, tão...
E assim foi. Completei minha tarefa e me debrucei sobre uma tristeza jamais sentida em minha existência. Foi meu último adeus a um grande amigo que a vida me roubou. Adeus, meu amigo Jorginho!