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SONO DA BELEZA

Vira e mexe sou criticado por um costume que tenho. Coisa simples, mas que serve de motivação para os amigos “pegarem no meu pé”. Eles dizem que sou preguiçoso, que não tenho serviço, que isso, que aquilo... chegam até a dizer que não tenho vergonha, só porque eu gosto de dormir após o almoço.

Mas, cá entre nós, é muito bom se servir tranquilamente daquela comida caseira, feita com carinho, e depois se esticar todo num sofá ou até mesmo numa cama por alguns valiosos minutos. Aí vai chegando aquela moleza no corpo, os olhinhos vão fechando e o som da TV vai sumindo aos poucos, vai sumindo e a gente se entrega àquele estado de inércia da vida, nos poucos instantes que ainda nos restam antes de voltar ao trabalho.

Dormir após o almoço é bem diferente que dormir à noite. O sono é mais leve, mais suave. Parece que a gente voa vagarosamente por entre felpudas nuvens brancas. A linha que separa sonho e realidade é muito tênue e se rompe facilmente, tanto que qualquer ruído, mesmo pequeno, nos traz de volta. Então o corpo agradece o repouso, esbanja disposição e a gente se sente melhor, de bem com a vida. O semblante se rejuvenesce e o sorriso aparece no rosto. Talvez por isso o descanso após o almoço seja chamado de Sono da Beleza.

Sei que há inúmeros sabores melhores que esse, poderia enumerar vários aqui. Aquele negócio, por exemplo, é bem melhor; e aquilo, então? Nem se compara. No entanto, não se pode negar que dormir depois do almoço é muito gostoso. Tenho certeza de que todo mundo adora. Até cachorro gosta. Observe que, depois de “encher a pança”, o bichinho vai saindo desconfiado e arranja um cantinho sossegado para tirar uma soneca. E mais: pesquisas comprovam que o trabalhador tem maior rendimento, no período vespertino, quando tira o seu cochilo após a “boia’. Mesmo que sejam apenas quinze minutos. Várias empresas, nas grandes cidades, adquirem colchonetes e espalham no pátio para esse fim. O sortudo se espreguiça e depois se levanta bem mais animado. A alegria se espalha pelos cantos do local e a produção se multiplica.

É certo que as chacotas à minha pessoa irão prosseguir, mas não dou “bola”. Só não dorme depois do almoço quem não pode ou quem vive correndo em busca de dinheiro, exigindo de si mais do que deve oferecer. Na verdade, são infundadas as críticas que recebo; são salpicadas de inveja as censuras ao meu sono da beleza.

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