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Filhos...

Se vendessem filhos em supermercados, eu iria comprar um para mim. Passaria pelas prateleiras pesquisando os preços, olhando as características dos produtos e escolheria aquele que atendesse melhor às minhas necessidades. Na primeira seção encontraria os mais bonitos e inteligentes, naturalmente por um preço elevado. Na próxima estaria exposta a série dos desprovidos de beleza, porém humildes e educados, ainda com valor alto. Mais à frente estariam enfileirados os bebês com peles menos procuradas, mas sem defeitos físicos, com preço razoável. No final uma liquidação dos filhinhos com leves desacertos psíquicos, dificuldades de locomoção ou com avarias em algum dos cinco sentidos. Seria assim, num supermercado, tudo organizado e supervisionado pelo gerente do local.

Se a prole fosse conseguida assim, eu não pensaria duas vezes e compraria até mesmo mais de uma unidade. Colocaria no carrinho, passaria pelo caixa, poria na sacola e levaria para casa. Escolhendo bem e não fazendo economia, eu não teria problemas. Não teria filhos que crescessem mal-educados, brigões ou violentos. Filhos preguiçosos, aproveitadores e sem vergonha. Filhos que usassem brincos, piercings e tatuagens. Filhos que gostassem da boemia, da farra e da boa vida. Filhos viciados em bebidas, cigarros e um caminhão de outras drogas. Não teria filhos com distúrbios mentais, possuídos por maus espíritos ou endemoninhados. Não teria filhos pedófilos, prostitutos, estupradores ou com preferência sexual duvidosa. Com a evolução dos dias atuais, poderia até haver filhos à venda já maiores, depois daquela fase do cocô e das horas de sono perdidas à noite pelo casal. Seria tudo perfeito!

É unânime a opinião de que filho é um dos maiores sonhos que se pode realizar; a chegada de uma criança alegra a casa e aproxima o casal. No entanto, ter um filho é muito temeroso. Não há como garantir que ele crescerá sempre obediente, andando pelo bom caminho. Uma boa educação ajuda, mas não resolve. A qualquer momento a bomba explode e a consequência dos seus atos são os pais que pagam. Filho pode ser bom, mas o perigo que ele representa à paz é imenso. A partir do seu nascimento não existe um só dia sem preocupações, um dia só de tranquilidade. Há sempre uma febre aqui, uma dor ali, a hora de beber o fôlego, o momento do engasgo. Vem o dia em que ele mata aula, que vai à festa, que namora, que se envolve com más companhias, com a polícia. Só o temor de ele aparecer machucado ou não voltar toda vez que sai seria um motivo justo para não tê-lo. Tem coisa pior: já vi filho xingar a mãe, já vi filho bater no pai. Os momentos de alegria não compensam os momentos de tristeza.

Como não há filhos em supermercados, é sempre possível arranjar um com falha técnica, com estrago sem conserto, com problema sem solução. Ter filhos não é um jogo de cartas que ao perder a rodada você embaralha e começa tudo outra vez. A cartada vale para toda a vida. Então é melhor não começar o jogo.

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