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Espaço Cultural -

DA VARANDA...

Aqui da varanda, deixo de olhar para dentro de mim mesmo, esqueço por instantes minhas angústias e apreensões, e olho para fora. À minha frente, as árvores desfilam, exibindo suas flores e suas cores; todas imóveis, fincadas ao chão. O único movimento é lhes dado vez em quando pelo vento, curvando seus galhos pra lá e pra cá, numa dança típica do lugar. Frágeis árvores! Abandonadas à própria sorte, crescem olhando para o céu em busca do sol e da chuva. Se alguém lá de cima se esquece e não lhes manda a porção de luz e de água necessária, se entristecem, perdem as folhas e as forças, morrem.

Envergonho-me, nesse momento, por minhas recentes lamúrias e tristezas. Eu, ao contrário das árvores, conto com a graça da mobilidade; posso ir e vir, buscar o melhor lugar, as melhores pessoas, o melhor momento. O que poderia ter melhor do que a dádiva do movimento? Um dos principais erros do ser humano é se sentir impotente diante das situações que a vida apresenta. Por mais que elas parecem complicadas, há sempre uma saída. A persistência e a criatividade são armas infalíveis e podem transpor todas as barreiras. Alguns pensadores mais otimistas dizem até que é necessário bendizer as dificuldades encontradas no caminho, pois elas são verdadeiramente oportunidades ímpares que forjam o caráter e enriquecem a alma.

Assim, não é permitido desanimar, desesperar, desistir diante das adversidades encontradas. É preciso seguir em frente e, se for preciso, mudar a direção em busca do melhor objetivo.

Ao contrário das árvores, se me falta luz ou água por aqui, posso sair ao encontro delas; se quiser, posso conhecer outros ventos e outras danças de outras regiões. Às vezes, o ser humano perde muito tempo contracenando com os mesmos atores, discutindo as mesmas questões, repetindo as mesmas perguntas sem respostas. É salutar a busca por mudanças, a visualização de outras paragens, a luta por algo mais sensato, adequado, superior. Há, sem dúvida, aqueles mais vitoriosos que nem se afastam, constroem ali mesmo o seu novo mundo, do seu jeito, apesar dos contratempos. Conseguem manter o alto nível da peça apesar do embate com os antagonistas e do desânimo dos coadjuvantes.

Aqui da varanda, envergonho-me pelas lágrimas que há pouco abriguei em meu lenço ao ver todas essas árvores dançando ao vento. Mesmo diante de suas imobilidade e passividade, parecem bem mais felizes que eu.

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