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A nova porta da Agência dos Correios

A nova porta da Agência dos Correios

Miguel Patrício
A conceituada Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, com mais de 40 anos de relevantes serviços prestados à população brasileira, surpreendeu a população de nossa cidade com a instalação de uma nova porta em sua agência. Bonita, segura e de um funcionamento que, à primeira vista parece fácil. Ela tem duas partes. Você chega, puxa uma delas, adentra no espaço e empurra a outra parte. A porta vai girando e, como num passe de mágica, você adentra ao local. Tem até duas placas indicativas alertando: puxe, empurre.

O problema é que as pessoas não se adaptaram com o sistema. Todos chegam e empurram a primeira parte, quando deveriam puxar. Aí, a porta trava. Acostumados com a outra giratória tradicional, as já envergonhadas pessoas imaginam que carregam algum objeto de metal e começam a procurar nos bolsos e nas bolsas. Enquanto isso, aqueles que estão lá dentro se divertem com o palhaço lá fora. Em vários momentos, é necessário que o segurança, aliás, um rapaz muito educado, deixe sua tarefa principal para tentar ajudar o pobre coitado que luta contra a teimosa engrenagem.

Não quero, com este relato, criticar a empresa. Pretendo apenas demonstrar o que a porta fez comigo nas duas vezes em que lá estive. Na primeira, tentei empurrar e ela não obedeceu. Ao ler a placa, o que deveria ter feito antes, consegui entrar. Naturalmente notei os sorrisos enquanto me dirigia ao local da senha. Na segunda vez, entrei sem dificuldades, já que havia aprendido. No entanto, ao sair, o mecanismo emperrou e não quis abrir quando eu puxei. Tentei de novo, e mais uma vez, enquanto os sorrisos se intensificaram. Se não fosse a intervenção Divina que fez surgir alguém para entrar e fazê-la funcionar, eu estaria naquela labuta até agora ou até o segurança me ajudar. Sem exagero algum, essa maldita porta pode ser comparada a um animal não-domesticado: se puxa, ela empaca; se solta, ela dispara.

Um aviso à população: quem sofre de claustrofobia não pode mais ir à agência de correios. A porta pode emburrar e a pessoa demorar a sair. É o bastante para alguém dar um troço lá dentro. Esse animal teve a petulância de encrencar até com um dos funcionários da agência. Um dos caixas. Eu estava preso lá e vi. Ele teve que sair e saiu sem problemas, mas na volta foi necessário fazer várias tentativas para retornar ao seu recinto de trabalho.

Já que o ato de mover processos hoje está em voga, possivelmente a empresa deve me processar por este relato que faço. Tudo bem, só peço às autoridades que tentem entrar na agência e fiquem por lá uns dez minutos antes de me aplicarem a pena. Verão que tenho razão. Sempre haverá alguém que visitará o local pela primeira vez e irá errar e servir de chacota para os outros que já aprenderam. E não se pode esquecer que há aqueles mais humildes, há inclusive os que não sabem ler. É preciso facilitar e não dificultar o atendimento. E se o cliente sempre tem razão, essa criação do demônio deveria ser retirada imediatamente.

Eu não vou mais à agência. Não gosto de passar vergonha e nem de ver o constrangimento no rosto das pessoas ao serem taxadas de burras. Não ficarei por lá esperando para ser atendido e sendo alvo de sorrisos. Talvez ainda haja por aí, em alguma cidade de nossa região, uma agência de correios com uma porta normal, fácil de ser domesticada, que nos deixe entrar, que nos deixe sair. Vou para lá despachar minhas correspondências.

Miguel Patrício é professor, escritor e ator
miguelpaodemel@gmail.com

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