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Como perdemos um amigo

Como perdemos um amigo

 

 Adeídes Rodrigues Pereira


Acreditem se quiser, mas perder um amigo é mais fácil do que você possa imaginar. Não é preciso fazer muito esforço, aliás, nenhum esforço. Vou tentar explicar rapidamente e veja se consegue entender.

Você passa anos desempenhando suas atividades, num labor exaustivo e até insalubre na tentativa de manter sua família sob condição digna de sobrevivência, quando de repente chega em seu escritório, casa ou pela rua mesmo aquela pessoa que ao longo dos últimos anos você passou cultivando como amiga, seu tempo é escasso e os problemas e obrigações estão passando por cima da cabeça, mas você para tudo e atende-o (a) da mesma forma como se não tivesse nada para fazer...

Anos vão se passando, um dia é uma orientação, outro é um favor, num outro você tira preciosos minutos e o vista em sua casa e ali vocês dividem um intimo churrasco, tomam cerveja, colocam o papo em dia e a vida segue.

Tudo parece muito bonito, nada parece incomodar e até mesmo os defeitos e erros um do outro servem apenas para enriquecer o bate-papo. A cumplicidade vai se aumentando ao ponto de que sonhos são compartilhados, projetos esmiuçados e nada parece perturbar essa relação de amizade que extrapola até mesmo os laços familiares.

São tantas confidencias, que quando paramos e observamos ao nosso redor, percebemos que esses amigos dividem informações que muita das vezes nem pai, mãe ou conjugue têm conhecimento. Até as intimidades são compartilhadas, face a confiança que unem essas duas pessoas.

Essa é uma relação que se segue por anos, os momentos difíceis de um é compartilhado pelo outro e as orientações e votos de confiança, o levante da autoestima quantas vezes é exercitado para que as dificuldades pareçam menores.

As vezes que circularam pela cidade sob o preceito de que uma boa conversa seria capaz de reanimar um ao outro e também estreitar ainda mais esse laço de amizade. Tudo isso conta na estruturação desse relacionamento que ignora credo religioso, estilo de vida, nível social, posicionamento ou orientação político-partidária, sem que nada disso jamais tenha conseguido afastar esses amigos. Até que um dia... Um deles resolve que será postulante a um cargo eletivo.

Até ai nada de mais. Ao longo da jornada são muitos diálogos, orientações, explicações e até mesmo encontros em que tudo pode leva-los a caminhar pelo mesmo caminho. Todavia, quis o destino que por força da circunstância eles fossem por caminhos diferentes, mas como apenas um era candidato, teoricamente não mudaria nada. Teoricamente.

Passada as eleições, o que seguiu o caminho vitorioso mudou todo seu pensamento. Aquilo que vivera antes foi deixado de lado e nada mais passou a ter nenhum valor, passou a enxergar apenas seus votos e o mandato que conseguira graças ao apoio de amigos, populares e muitas coisas aprendidas com o até então amigo.

Esquecera que com esse amigo já ganhara e perdera outras eleições. Esquecera que quando tudo parecia sem saída, esse amigo usa seu crédito e levantava recursos para custear despesas de campanha onde estavam envolvidos; esquecera que este amigo vendera o próprio carro de transportar sua família para honrar compromissos assumidos inclusive por ele. Esquecera que nada disso foi capaz de mudar o perfil desse amigo.

Como esse velho ditado popular insiste em prevalecer: “Brasileiro tem memória curta”, quando esse brasileiro é nosso amigo esforçamos para não acreditar. A esperança é de que ele não se embebede com a pequena conquista de uma eleição e esqueça-se da maior que já teve que são as amizades. A esperança, é para que os 4 anos de um mandato eletivo não sirva para seu desapego aos amigos, porque ao seu final, eles podem fazer falta.

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