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Miguel Patrício -

JOÃO CAMPINA

Muitos não acreditam, mas é uma verdade. Existem pessoas que fazem morrer plantas e animais simplesmente com a força do olhar. Conseguem até adoecer seres humanos. É isso mesmo! Dizem que elas têm “olho ruim”. O mais interessante é que esses infortúnios não acontecem por vontade própria, mas sim quando surge nesses indivíduos certa admiração por algo bom ou belo. Conheci alguém assim.

A cidade era pequena, todos se relacionavam com João Campina, o personagem desta história. Senhor moreno, já de certa idade, exibia nas têmporas nacos de cabelos brancos. Era amigo e sempre solícito, pronto para ajudar quando fosse necessário. Benzia e curava cobreiros e “vento-virado”. Espantava, com suas orações, as cobras que infestavam a região. Entretanto os vizinhos ficavam sempre de “orelha em pé”, preparando-se para a iminência de uma visita dele. Quando o homem surgia no fim da rua, vasos de plantas, animais de estimação e crianças mimosas eram colocadas longe de sua visão, pois todos sabiam das nefastas consequências.

Pés de flores não paravam em pé; curvavam-se diante da força nociva daqueles olhos sem brilho e sem cor. Meninos davam quebranto e logo chegavam alergias, vômitos e diarreias, cachorros entristeciam e ficavam dias prostrados pelos cantos da casa. Certa vez, ele observou por alguns minutos um sitiante ordenhando suas poucas vacas: a mais farturenta de todas nem teve leite para o bezerro no dia seguinte. Em outra estância, ao debruçar-se sobre as tábuas de um mangueiro e elogiar a beleza dos porcos, os coitados foram morrendo um de cada vez em espaços regulares de tempo, e o dono nada pôde fazer. E veja só: quando presenciava um jogo de baralho, os participantes escondiam dele suas cartas sob pena de perderem a partida.

Eu sabia de suas proezas e, quando o encontrei, pedi logo que me fizesse uma benzedura para que eu ganhasse de meus adversários no jogo de cartas, passatempo que também aprecio. Ele alertou: “Ó meu fio, num é uma boa ideia, pois jogo é o seguinte: se ocê ganhar, ganha o inferno; se ocê perder, perde a alma. Isso é da parte do Herodes!” Eu agradeci, disfarcei o meu medo e tratei de ir logo embora.

João Campina não está mais entre nós. Ficou apenas sua lembrança e a constatação de que ele, apesar do “olho ruim”, tinha em contrapartida um bondoso coração.

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